Pular para o conteúdo principal

Apresentação

  Olá, FisioIntelectuais! Aqui você encontra conteúdos de atualização, aprimoramento de habilidades, interação entre profissionais e domínio entre teoria e prática na área de Fisioterapia Intensiva 🐵

Pré - Habilitação: como preparar os pacientes para cirurgias eletivas de grande porte?

Cirurgias realizadas sem caráter emergencial são chamadas de eletivas e contemplam as mais variadas modalidades. Quanto maior o porte da cirurgia, maiores são os riscos do paciente desenvolver complicações pós-operatórias.

O ato cirúrgico é um evento que causa estresse ao organismo que frequentemente leva a efeitos adversos não relacionados aos objetivos do tratamento. Estudos indicam que cerca de 30% dos pacientes submetidos a cirurgias abdominais de grande porte têm complicações pós-operatórias, sendo que esse número pode ser maior em idosos frágeis e indivíduos com comorbidades e/ou maus hábitos de vida. 

Diante disso foram identificados alguns fatores de risco modificáveis que diminuem a ocorrência de complicações pós-operatórias como: nutrição adequada, apoio psicológico e preparo físico antes da intervenção cirúrgica. Esse conjunto de ações realizadas no período pré-operatório é denominado de pré-habilitação. Ela é definida como um processo de otimização da capacidade funcional e psicológica com o objetivo de reduzir potenciais efeitos deletérios de cirurgias de grande porte, como as cardíacas e abdominais.

Esse condicionamento pré-operatório incorpora uma abordagem multidisciplinar, com o intuito de reduzir a morbimortalidade e acelerar a recuperação após a cirurgia. 

Procedimentos cirúrgicos maiores induzem a respostas inflamatórias sistêmicas que promovem perda de massa muscular, desequilíbrio na homeostasia e redução da capacidade aeróbica. O sucesso de uma cirurgia vai muito além do sucesso do procedimento, inclui o tempo em que o indivíduo retorna ao seu estado de saúde física e psicológica.

Um estudo demonstrou que 80% dos pacientes submetidos a ressecção de câncer colorretal que realizaram pré-habilitação, recuperaram sua capacidade funcional basal 8 semanas após a cirurgia. Outro estudo relatou que a pré-habilitação reduziu 51% das complicações pós cirurgia abdominal de grande porte. 

Pacientes idosos e os indivíduos que possuem neoplasias gastrointestinais já se incluem no grupo que terá resultados satisfatórios com a pré-habilitação. Entretanto a recomendação atual é incluir todos os pacientes que necessitem de grandes cirurgias, não havendo relato de efeitos negativos dessa intervenção.

A avaliação para determinar a necessidade da pré-habilitação se concentra em 4 esferas:

1 - Exercício

Para a avaliação do condicionamento cardiorrespiratório usa-se o TECP (teste ergométrico cardiopulmonar) que fornece dados objetivos da função dos sistemas cardiovascular, respiratório, hemático e celular, pois mensura as trocas gasosas por meio do consumo de O2 no limiar anaeróbio (LA) e no pico de exercício (VO2 máximo).

Pode-se utilizar também o TC6 (teste de caminhada de 6 minutos) que é um dos melhores indicadores funcionais em idosos. 

A força muscular também é avaliada por meio da força de preensão manual e da força do músculo quadríceps.

2 - Nutrição

É realizado um rastreio nutricional para identificar risco de desnutrição e, portanto, também indicam suporte nutricional no programa de pré-habilitação.

3 - Psicológico

Os pacientes que irão passar por uma cirurgia de grande porte passam por um estresse emocional que pode impactar tanto na adesão ao programa de pré-habilitação, quanto na recuperação pós cirurgia. Por isso é necessária avaliação de um psicólogo para identificar transtornos como ansiedade e depressão.

4 - Avaliação clínica

Fatores de risco devem ser identificados para prevenir complicações intra-operatórias e no período de recuperação. Essa avaliação inclui hábitos como tabagismo e comorbidades como diabetes e anemia.

Como realizar o protocolo de pré-habilitação?

1 - Exercícios

O objetivo é melhorar a capacidade funcional por meio de treinamento aeróbico, de resistência, de fortalecimento muscular, flexibilidade e equilíbrio.

A programação é realizada a partir dos dados do TC6 e do TECP e envolvem exercícios sistêmicos direcionados à esperada perda de capacidade cardiovascular e musculoesquelética por períodos de menor mobilidade após a cirurgia; e exercícios terapêuticos voltados para mobilidades localizadas como treino respiratório para cirurgias torácicas e de fortalecimento muscular para cirurgias ortopédicas.

O plano terapêutico deve especificar frequência, intensidade, tempo e tipo da atividade. De forma geral, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) é recomendado 150 minutos de atividade física por semana, dos quais 30 a 40 minutos de exercícios aeróbicos (2 a 3x por semana), com intensidade moderada (50 a 75% da FC máxima). Além disso, o treino de força deve ser feito pelo menos 2x na semana englobando os membros superiores, inferiores, tórax e quadril. São incluídos também treino de flexibilidade e equilíbrio. 

A otimização da intensidade pode ser feita pela monitorização da FC (frequência cardíaca) ou pela escala de Borg.

Exercícios respiratórios também devem ser incluídos ao programa.

2 - Suporte Nutricional

A otimização nutricional deve ser introduzida a todos os pacientes que apresentam risco de complicações induzidas pela desnutrição pós-operatória. Deve-se iniciar de 7 a 14 dias antes da cirurgia.

O suporte nutricional deve conter quantidades suficientes de proteína para promover o anabolismo e a manutenção do peso corporal em situações de maior estresse metabólico. A ingesta diária de proteína é de 2 porções de 20 a 40 gramas.

O carboidrato pode ser utilizado para facilitar a realização dos exercícios físicos, sendo administrado poucas horas antes, pois aumentam o glicogênio muscular e hepático.

O consumo de 140g de carboidrato 3 horas antes da atividade física facilita a realização dos exercícios, e 10g de proteína após o exercício aumenta 25% a força muscular dinâmica.

3 - Suporte Psicológico

O psicólogo realiza uma avaliação inicial para identificar possíveis transtornos e, então, é proposto um programa contendo técnicas de redução de estresse e ansiedade como relaxamento e exercícios respiratórios.

O estresse pré-operatório está associado à cicatrização mais lenta. Já a ansiedade aumenta o tempo de internação e a depressão está relacionada à dor a longo prazo.

Na pré-habilitação, as consultas com psicólogo tem duração de 60 a 90 minutos com objetivo de reduzir ansiedade e depressão para aumentar e reforçar a motivação.

4 - Otimização Clínica

- Anemia: está associada ao aumento da morbidade após cirurgias, principalmente as de grande porte. A correção da anemia pode ser realizada durante a pré-habilitação por meio de ferro via oral ou intravenoso.

- Controle glicêmico: está ligado a diminuição de complicações infecciosas.

- Tabagismo: deve ser interrompido por no mínimo 4 semanas antes da cirurgia com o objetivo de reduzir complicações pós-operatórias.

Qual o tempo de duração da pré-habilitação?

A duração ideal do programa deve ser entre 4 e 8 semanas.

Períodos de 2 a 4 semanas é ineficiente e exceder 3 meses pode gerar baixa adesão dos pacientes.

Avaliação dos benefícios

Os pacientes devem ser avaliados antes de após a cirurgia nas esferas: física, psicológica, nutricional e clínica. Os períodos propostos geralmente são: um ou dois dias antes da cirurgia e 8 semanas após a cirurgia.

Pode-se também comparar os resultados da avaliação feita antes da pré-habilitação com os dados colhidos antes e após a cirurgia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TRALI - Lesão Pulmonar Aguda Associada à Transfusão

 Você já ouvir falar de TRALI ou já atendeu algum paciente com essa lesão? Leia este artigo e saiba mais sobre essa condição relativamente rara, mas com alto índice de mortalidade. A lesão pulmonar associada à transfusão, ou do inglês TRALI , foi relatada pela primeira vez em 1985. Ela consiste numa séria complicação associada à transfusão de sangue total, plasma fresco congelado, concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas e granulócitos coletados por aférese.  A TRALI é caracterizada por insuficiência respiratória aguda, edema pulmonar bilateral e hipoxemia severa, não estando associada a nenhum evento cardíaco, e ocorre durante a transfusão ou dentro de 6h após o seu término.  É considerada rara, pois ocorre na razão de 1 em 5 mil unidades transfundidas e de 1 em 625 pacientes transfundidos. Entretanto, é a maior causa de morbidade e mortalidade associada a transfusão.  A exata fisiopatologia não é totalmente conhecida, mas a teoria tradicional sugere que...

Capnografia na RCP

Recomendação atual durante todo o processo de RCP (ressuscitação cardiopulmonar) em pacientes intubados, tem como objetivo avaliar o correto posicionamento do tubo, a qualidade da RCP e detectar o retorno da circulação espontânea, por avaliação contínua do dióxido de carbono ao final da expiração. Valores mais baixos de gás carbônico no final da expiração (EtCO2) (< 10 mmHg) são correlacionados a compressões torácicas ineficazes, baixo débito cardíaco ou nova PCR (parada cardiorrespiratória). Valores > 40 mmHg estão associados ao retorno da circulação espontânea e variabilidade espontânea na pressão arterial. Baixos valores após 20 minutos de PCR indicam baixa probabilidade de retorno da circulação espontânea. 

Hiperinsuflação, você conhece essa técnica?

Hiperinsuflação manual                        Fonte: fisioterapia UDESC Objetivos: melhorar a oxigenação pré e pós-aspiração traqueal;  mobilizar o excesso de secreção brônquica; reexpandir áreas pulmonares colapsadas. Utilização da técnica: Na prática clínica é amplamente utilizada em doentes críticos ventilados mecanicamente, sobretudo aqueles que apresentam elevado volume de secreção. Realização dessa manobra: O fisioterapeuta utiliza uma bolsa de insuflação pulmonar, que comprime lentamente (em busca da capacidade pulmonar total) e deixa expandir (fase expulsiva) posteriormente de maneira brusca.  Isso proporciona um aumento do fluxo expiratório, resultando no deslocamento de secreção para as vias respiratórias centrais. Essa manobra também pode ser associada a compressão torácica na fase expiratória. Hiperinsuflação com ventilador mecânico                ...